quinta-feira, 28 de junho de 2012

ÁLVARO DE CAMPOS


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Ali não Havia Electricidade

Ali não havia electricidade.
Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler -
A Bíblia, em português (coisa curiosa), feita para protestantes.
E reli a "Primeira Epístola aos Coríntios".
Em torno de mim o sossego excessivo de noite de província
Fazia um grande barulho ao contrário,
Dava-me uma tendência do choro para a desolação.
A "Primeira Epístola aos Coríntios" ...
Relia-a à luz de uma vela subitamente antiqüíssima,
E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim...
Sou nada...
Sou uma ficção...
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
"Se eu não tivesse a caridade."
E a soberana luz manda, e do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma é livre...
"Se eu não tivesse a caridade..."
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade 


                    Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, in "Poemas"

 

domingo, 17 de junho de 2012

É PRECISO ACREDITAR!



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O Teatro regressou à SMUP! Ainda que com fraca publicidade, a peça  «Pierrot e Arlequim» foi um êxito - de público e não só!

Parabéns a todos os que contribuiram para algo que há alguns meses atrás parecia impossível de alcançar: criar condições para apresentar algo na SMUP!
Esta co-produção entre a SMUP e o Projecto Magnólia provou que com persistência, sonho e união de vontades se consegue fazer muita coisa.
É preciso continuar a acreditar! 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O TEATRO DE REGRESSO!


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«Pierrot e Arlequim» - Estreia a 14 Junho!


 (A partir de textos de Almada Negreiros)


14 a 16 Junho, 21h30 - SMUP
 
17 de Junho - Auditório Fernando Lopes-Graça,
Parque Palmela, Cascais
(no âmbito das comemorações dos 15 anos do Auditório)

Uma Co-Produção
Companhia de Teatro da SMUP
Projecto Magnólia

Reservas:
934 064 208 - 966 662 076 - 214571325

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Porque a vida é só uma!
E eu vou espremê-la muito bem espremidinha até ao fim
e espero que não há-de ter ficado nada por fazer!

APARECE!

BARBATUQUES

quarta-feira, 6 de junho de 2012

NATÁLIA CORREIA


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Poema Involuntário
Decididamente a palavra
quer entrar no poema e dispõe
com caligráfica raiva
do que o poeta no poema põe.

Entretanto o poema subsiste
informal em teus olhos talvez
mas perdido se em precisa palavra
significas o que vês.

Virtualmente teus cabelos sabem
se espalhando avencas no travesseiro
que se eu digo prodigiosos cabelos
as insólitas flores que se abrem
não têm sua cor nem seu cheiro.

Finalmente vejo-te e sei que o mar
o pinheiro a nuvem valem a pena
e é assim que sem poetizar
se faz a si mesmo o poema.


                       Natália Correia (1923-1993)
(do livro «O Vinho e a Lira»)