sábado, 17 de março de 2012

SOPHIA


*    *

(Serenamente sem tocar nos ecos)

Serenamente sem tocar nos ecos
Ergue a tua voz
E conduz cada palavra
Pelo estreito caminho.

Vive com a memória exacta
De todos os desastres
Aos deuses não perdoes os naufrágios
Nem a divisão cruel dos teus membros.

No dia puro procura um rosto puro
Um rosto voluntário que apesar
Do tempo dos suplícios e dos nojos
Enfrente a imagem límpida do mar.

                                        Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

(do livro «No Tempo Dividido» - 4ª. edição, revista - Editorial Caminho/2005

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