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(Chamo pátria de profundas veias)
Chamo pátria de profundas veias
a essa relação viva entre os homens se ela houvesse
e não esta condição de anónima indiferença
e de vaga identidade flutuante
sem cúpula e sem os templos brancos
com jardins de um ócio voluptuoso
É por isso que estamos condenados
à solidão de não pertencermos à dilatada força
que constitui um universo e projecta um horizonte
de humanidade viva em floração unânime
Somos apenas cúmplices da nossa inabilidade
e dos ornamentos com que a revestimos
para parecer que somos e ser o que parecemos
Quem escreve procura abrir um espaço numa muralha
tão opaca mas vaga e cinzenta
que esse espaço imaginado de branca identidade
não é mais que um aceno à possível liberdade
para além da sua glória profanada
António Ramos Rosa (n. 1924)
(do livro «Pátria Soberana seguido de Nova Ficção» - Quasi Edições, Outubro/1999)
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